10/10/2022 às 14h04min - Atualizada em 10/10/2022 às 16h25min

Vale posterga dívida de R$2,3 bi de CFEM, porém novas autuações da ANM acusam irregularidades de quase R$9 bi

Novas fiscalizações foram feitas pela Agência Nacional de Mineração em 2018

SALA DA NOTÍCIA Lorraine Souza

Após o alvoroço provocado pela campanha nacional, encabeçada pela  Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (AMIG), que cobra pagamento de uma das dívidas da Vale S.A, em torno de  R$2,3 bilhões, com 28 municípios mineradores brasileiros, a mineradora tem alegado que faz o  recolhimento correto da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM). Mas não é isso que mostram as diversas autuações da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão regulador. 

 

Uma fiscalização feita pela ANM em 2018,  encontrou novas dívidas da Vale no pagamento dos royalties que somam quase R$9 bilhões. A própria Vale S/A reconhece o montante ao lançar as autuações em seu balanço de resultados. No documento, a empresa informa o valor de R$8,89 bilhões, incluindo juros e multas até dezembro de 2021 . A dívida cobrada pela AMIG e os 28  municípios mineradores foi auditada pela agência, na época do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), apurada de 1996 a 2005. 

 

“A Vale vem pagando, sim, a CFEM, porém de acordo  com seu próprio entendimento. A empresa não segue as normas do órgão fiscalizador. Se ela estivesse pagando de forma correta, na fiscalização de  2018 não seria encontrado nenhum débito, mas pelo contrário, o valor ultrapassa R$ 7 bilhões.O que vemos é que à medida que a Vale aumenta sua produção/comercialização, as diferenças apuradas pela Agência são astronômicas”, destaca a consultora tributária da AMIG, Rosiane Seabra. A associação alerta que a evasão da CFEM aos municípios impede investimentos em áreas fundamentais para o crescimento e bem-estar da população.

 

A AMIG esclarece à sociedade que a dívida de R$ 2,3 bilhões originou-se de levantamentos feitos há quase 18 anos. Os processos de cobranças iniciados em 2006, em sua maioria, ainda estão em recursos administrativos dentro do órgão regulador.  São quase 110 processos de cobranças, que perfazem esse montante. Destes, 10 estão em dívida ativa, com CDA – Certidão de Dívida Ativa, cobrados pela Procuradoria Federal. Os demais ainda estão em recursos administrativos na ANM.

 

Waldir Salvador, consultor de Relações Institucionais e Desenvolvimento Econômico da AMIG, destaca que depois de tantas tratativas com a empresa, a associação e os municípios não têm mais o que aguardar. “Queremos que se cumpra a lei. Ela deve pagar. A AMIG não faz essa cobrança pública feliz. Essas mazelas só dão subsídios para quem é inimigo da atividade mineradora. A associação não é adversária da mineradora e muito menos da mineração, Só queremos que seja uma atividade íntegra, decente e sustentável para ambas as partes (mineradoras e municípios)”, pontua. 

 

Nesta semana, a Vale anunciou que deve pagar dividendos robustos mesmo com a queda do minério, no qual as estimativas do preço em 2022 variam de US$ 136 para US$ 121 e de US$ 105 para US$ 94 em 2023. A mineradora deve fechar o ano com distribuição de 19% em dividend yield (DY) e 16% no ano de 2023, segundo analistas do JPMorgan. A expectativa da casa é que a mineradora deve seguir com remunerações robustas, apesar do cenário de desaceleração econômica na China. Em 1º de setembro deste ano, a empresa distribuiu, R$ 16,2 bilhões em dividendos. “Se a Vale tem resultados espetaculares, por que não pode cumprir a legislação?”, questiona Salvador.

 

Segundo o consultor da AMIG, há uma enorme contradição  da Vale com a legislação brasileira. “Quando a mineradora precisa de um alvará para lavra ou pesquisa, ou quando necessita dar crédito à segurança de suas barragens,  ela usa e abusa da boa influência e competência da Agência Nacional de Mineração”, alerta. Segundo Salvador, é comum ver anúncios da empresa que dizem “minha barragem  tem esse grau de segurança conforme atestado pela ANM, o grande órgão fiscalizador do setor.  Mas na hora de pagar o royalty,  ela inverte o jogo. Ela desacredita a agência e não concorda com a cobrança feita pelo órgão. Até quando teremos que ver essa relação que a mineradora tem com o setor de ‘dois pesos e duas medidas’? Até quando teremos que engolir essa postura por conveniência? Não dá para continuar assim”, enfatiza Salvador. 

 

Confira a lista dos processos que a justiça deu causa ganha à ANM contra a Vale S/A no site https://www.amig.org.br/campanha-divida-vale.

 

Veja a lista das cidades credoras da Vale, por Estado:

 

MINAS GERAIS:

 

Barão de Cocais

Belo Vale

Brumadinho

Catas Altas

Congonhas

Itabira

Itabirito

Mariana

Nova Lima

Olhos D’Água

Ouro Preto

Rio Piracicaba

Sabará

Santa Bárbara

São Gonçalo do Rio Abaixo

Sarzedo

Tapira

 

 

PARÁ:

 

Canaã dos Carajás

Ipixuna do Pará

Paragominas

Parauapebas

 

 

GOIÁS:

 

Catalão

 

 

MATO GROSSO DO SUL:

 

Corumbá

Ladário

 

 

AMAPÁ:

 

Laranjal do Jari

Vitória do Jari

 

 

SERGIPE:

 

Rosário do Catete

Capela

 

 

 

Sobre a AMIG

Fundada em 1989, a AMIG é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo representar, junto aos poderes públicos, as cidades que desenvolvem atividades minerárias. Atua diretamente em defesa dos interesses e direitos dos municípios mineradores e em prol do desenvolvimento sustentável, geração de investimentos e conquista de recursos para infraestrutura, saúde, educação e preservação ambiental.



 
Notícias Relacionadas »
Comentários »