19/04/2023 às 16h29min - Atualizada em 20/04/2023 às 08h01min

Após baixa em 2022, planos de saúde repensam mercado em 2023

Com rombo de R$ 11 bilhões em apenas nove meses, operadoras encaram o novo ano como uma fase de reestruturação para evitar novos déficits

SALA DA NOTÍCIA Ícaro Ambrósio
Pressfoto/Freepik
Descendo a ladeira, os planos de saúde não tiveram muitos motivos para comemorar o ano de 2022. Isso porque dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) certificaram uma margem de prejuízo generosa. Já em 2023, a cabeça é outra. Agora, as operadoras passam por um momento de reconstrução e replanejamento.

Apenas entre janeiro e setembro do ano passado, conforme aponto a ANS, as empresas que ofertam esse serviço no Brasil acumularam um rombo de quase R$ 11 bilhões. Após este cenário, especialistas especulam uma fase de reestruturação interna e possíveis modificações no escopo da oferta dos pacotes. O lógico objetivo é fugir de novas decadências financeiras e reestruturar o capital.

Para Thayan Fernando Ferreira, advogado articulista do direito de saúde e direito público, membro da comissão de direito médico da OAB-MG e diretor do escritório Ferreira Cruz Advogados, o trabalho é árduo, mas necessário. O especialista esclarece que as etapas a seguir envolvem renegociação para o fluxo de pagamentos das seguradoras aos hospitais e ainda reajustes.

“Os planos de saúde vão enfrentar uma boa onda de replanejamento. Estamos percebendo certas manobras que já indicam um novo comportamento por parte das seguradoras que indica questões burocráticas associadas a reformulações da demanda. Uma espécie de pente-fino nas contas deve rever os pagamentos aos hospitais, também pode limitar o número de redes credenciadas e até reposicionar os tipos de planos ofertados. No final, a conta também poderá ter algum adicional para o consumidor”, argumenta.

O advogado ainda esclarece que tal quadro pode ser um fruto da pandemia e sua demanda exacerbada. “O efeito Covid-19 elevou muito o número de consultas, encarecer o preço de exames e também mexeu no bolso do consumidor. Enquanto planos de saúde perdiam seus assegurados porque essas pessoas se embolavam para pagar o boleto, do outro lado, os valores impostos as empresas cresciam. Não precisa ser um economista para entender que se o custo sobe e o caixa esvazia, teremos prejuízo”, salienta.

Thayan ainda acredita que o futuro próximo não seja tão otimista para as operadoras. O especialista enxerga que ainda que estejamos num momento de retomada, os consumidores ainda não estão dispostos para adquirir planos que tenham uma margem de lucro rentável para a corporação. “Mesmo que em 2023 as pessoas estejam se recapitalizando e voltando a adquirir seus planos de saúde, a opção mais recorrente tem sido por planos com valor mais baixo, aqueles de assistência mais primária”, acrescenta.

Mesmo que em fase de reestruturação, modificar a estrutura interna de um plano requer cuidados porque há regras as quais os planos de saúde não podem desconsiderar. “A ANS limitou em 15,5% o índice de reajuste para os planos de saúde individuais e familiares até o final de abril de 2023. Depois deste mês, o contexto poderá ser outro. Esse é um dos motivos que nos faz acreditar que as agências passam por um momento de repensar suas ofertas. Em vista disto, ter uma boa assessoria jurídica é essencial para que a operadora não se descontrole e acabe enfrentando maus bocados”, finaliza o diretor do escritório Ferreira Cruz Advogados.
 
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