16/07/2022 às 07h50min - Atualizada em 16/07/2022 às 08h00min

Após Polícia Civil concluir inquérito sobre morte de petista no Paraná, PT diz que 'imagens e depoimentos provam a motivação política do crime'

Marcelo Arruda foi morto durante a própria festa de aniversário que tinha como tema o PT e o ex-presidente Lula. Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe.

G1 MS
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Marcelo Arruda foi morto durante a própria festa de aniversário que tinha como tema o PT e o ex-presidente Lula. Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe. Dentro e fora do salão: vídeos sincronizados mostram assassinato de petista por bolsonarista no PR
Após a Polícia Civil concluir o inquérito sobre a morte de Marcelo Arruda, o Partido dos Trabalhadores afirmou que "imagens e depoimentos provam a motivação política do crime".
Na sexta-feira (15), Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe. A delegada Camila Cecconello disse que ele atirou contra Marcelo por ter se sentindo ofendido, já que o petista jogou um punhado de terra e pedra contra o carro dele, após provocação política.
Contudo, segundo testemunhas, os dois discutiram sobre suas ideologias e seus pensamentos políticos. Guaranho falava palavras de apoio a Bolsonaro e contra o Lula, enquanto Marcelo se manifestava contra Jair Bolsonaro e a favor do Lula.
O crime aconteceu no sábado (9). Marcelo Arruda, de 50 anos, foi morto a tiros na própria festa de aniversário, que tinha como tema o PT e o ex-presidente Lula.
"Entendemos que as conclusões que constam no inquérito, apresentado pela Polícia Civil e Secretaria de Segurança Pública, são prematuras, e que podem levar a interpretação de que o que teria ocorrido com Marcelo, seria fruto de uma briga comum sem motivações políticas, narrativa esta, contestada pelos fatos amplamente divulgados na imprensa, com imagens e depoimentos que provam a motivação política do crime", diz nota do PT.
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Ainda de acordo com a nota do partido, o que ocorreu com Marcelo Arruda não pode ser naturalizado, tão pouco banalizado, "sob o risco de que a democracia brasileira sofra um processo traumático e sem precedentes de ruptura".
"O encerramento apressado das investigações desse crime bárbaro é, acima de tudo, uma ofensa à família de Marcelo, além de um prognóstico preocupante de conivência das autoridades com os futuros episódios de violência que ameaçam as eleições deste ano", afirma nota.
O petista Marcelo Arruda (esq.) foi morto por Jorge Guaranho (dir.), apoiador de Bolsonaro
Reprodução
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MP deve oferecer denúncia
O promotor de Justiça Tiago Lisboa Mendonça informou ao g1, na sexta (15), que o Ministério Público do Paraná (MP-PR) deve oferecer denúncia contra Guaranho em até cinco dias. O policial penal segue internado no hospital, sem previsão de alta.
"As peças restantes do inquérito policial foram juntadas pelas delegadas hoje. O inquérito tem que vir formalmente para mim, pelo Projudi. A partir daí começa a conta de cinco dias. É obvio que o próprio artigo 16 do Código de Processo Penal permite a devolução do inquérito para diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Como ainda não analisei integralmente, eu posso devolver o inquérito, e a autoridade policial tem que realizar. Daí fica prejudicado o prazo de cinco dias", disse Lisboa.
Sobre o teor da conclusão do inquérito, o promotor preferiu não comentar.
O inquérito
Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e causar perigo comum.
A delegada Camila afirmou que Guaranho atirou contra Marcelo por ter se sentindo ofendido, já que o petista jogou um punhado de terra e pedra contra o carro dele, após provocação política.
Entretanto, a delegada afirma que a morte não foi provocada por motivo político, por ter entendido que os disparos tenham sido feitos após uma escalada na discussão.
"É difícil nós falarmos que é um crime de ódio, que ele matou pelo fato de a vítima ser petista", afirmou.
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A delegada avalia ainda que Guaranho não planejou o crime, uma vez que recebeu a informação da festa de Marcelo enquanto participava de churrasco com amigos, e foi até o local para fazer uma provocação, retornando pela segunda vez por ter se sentido ofendido, segundo as investigações.
"Segundo os depoimentos, que é o que temos nos autos, ele voltou porque se sentiu ofendido com essa escalada da discussão, com esse acirramento da discussão entre os dois", disse Camila.
Para Camila, para se enquadrar em motivação política, seria necessário identificar um desejo de Guaranho em impedir os direitos políticos de Marcelo, o que, para ela, seria "complicado de dizer".
O que dizem as defesas
Sobre a conclusão da Polícia Civil, o advogado Ian Vargas, da equipe de defesa da família de Marcelo, disse que inquéritos de casos complexos como este levam mais tempo.
"Normalmente leva um tempo esses inquéritos. Principalmente desta magnitude, com essa complexidade, com essa quantidade de pessoas que foram ouvidas e provas a serem colhidas como pericias de celular, computador, veículo, câmeras de outros locais".
O advogado Carlos Bento, que integra a equipe da defesa de Guaranho, disse que o inquérito pode ter terminado aos olhos da policia, mas que para a defesa, "está iniciando".
"Foram ouvidas testemunhas que a defesa não teve acesso. São testemunhas que estavam na festa. São testemunhas que certamente são amigos da suposta vítima".
Como tudo aconteceu, segundo a polícia
A delegada informou que Guaranho foi até o local do aniversário com o objetivo de fazer uma provocação.
Testemunhas disseram que o policial penal chegou em um carro com a mulher e um bebê. Além disso, o carro do atirador tocava uma música de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Após isso, uma discussão se iniciou. A delegada afirmou que testemunhas relataram que Marcelo jogou um punhado de terra contra o veículo de Guaranho. Depois da discussão, o policial deixou o local
A Polícia Civil concluiu, com base nos depoimentos, que Guaranho retornou ao local do aniversário por ter se sentido humilhado. Ao retornar ao aniversário, o porteiro da associação tentou impedir que ele entrasse no local a pedido dos participantes da festa.
De acordo com a análise das imagens, a discussão evoluiu na seguinte sequência:
Guaranho vai até a associação e, segundo testemunhas, coloca no carro uma música de apoio a Bolsonaro;
Marcelo sai do salão de festas e atira um punhado de terra contra o carro de Guaranho;
Os dois começam a discutir;
Guaranho deixa o local, e participantes da festa pedem para que o porteiro impeça a entrada dele, caso o policial volte;
Guaranho volta ao local, e o porteiro tenta impedi-lo;
O policial abre o portão sozinho;
Marcelo é avisado que Guaranho entrou;
O petista carrega a arma e coloca na cintura;
Guaranho estaciona o carro;
Marcelo pega a arma;
Guaranho também saca a arma de fogo;
Pâmela, mulher de Marcelo, tenta intervir na discussão;
Marcelo e Guaranho ordenam um ao outro para que abaixe a arma;
Guaranho atira primeiro.
Camila afirmou que Guaranho fez quatro disparos, dos quais dois atingiram Marcelo. Por outro lado, o petista atirou 10 vezes, acertando quatro tiros contra o policial.
Além disso, o inquérito aponta que Marcelo tinha se armado para se defender, sabendo do provável retorno de Guaranho.
"A vítima pega a sua arma de fogo como proteção de um eventual retorno do autor. E a vítima aponta a arma de fogo quando vê a volta do autor, porque já sabia que o autor estava armado. Então, é uma atitude natural da vítima querer se defender".
Antes da discussão
Segundo a Polícia Civil, o policial penal estava em um churrasco, quando ficou sabendo que a festa de Marcelo estava acontecendo.
Segundo as investigações, o atirador tomou conhecimento por meio de uma outra pessoa que estava no churrasco e tinha acesso às imagens de câmera de segurança da associação onde o aniversário de Marcelo estava acontecendo.
Em seguida, de acordo com a delegada, Guaranho não fez comentários a respeito da festa. Apesar disso, o policial penal deixou o churrasco onde estava e foi para o local onde era realizado o aniversário de Marcelo.
Agressões
A delegada Iane Cardoso informou ainda que um inquérito também foi aberto para apurar as agressões que Jorge Guaranho sofreu após atirar contra Marcelo Arruda. Três pessoas são investigadas pelo caso.
Camila Cecconello disse que a polícia também aguarda um laudo pericial para determinar a gravidade das agressões sofridas por Guaranho.
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Fonte: https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2022/07/16/apos-policia-civil-concluir-inquerito-sobre-morte-de-petista-no-parana-pt-diz-que-imagens-e-depoimentos-provam-a-motivacao-politica-do-crime.ghtml
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